Socioambiental

Eu pensei nesse tema em setembro de 2023. Mas estava no meu último quadrimestre obrigatório da UFABC e foi tão insano que não consegui elaborar o texto que eu queria e, obviamente, este texto que saiu não era aquele que eu imaginei… enfim; vamos começar.

Quando eu decidi cursar o técnico em meio ambiente fui apresentada ao tema e aprendi que meio ambiente é tudo. Até então, eu pensava que fosse apenas natureza. Tinha o costume de fazer trilha e achava que aquilo fosse meio ambiente: caminhar na mata, entrar no mar, cachoeira.

No entanto, aprendi sobre meio ambiente e saúde e sobre como essa relação nos afeta de forma bem direta sem que a gente saiba. E assim, minha percepção de mundo foi mudando à medida que eu aprendia mais… aprendi que onde moro, Santo André no ABC paulista, é mata atlântica. Eu não imaginava isso! Amei a área 💚

Quando fui fazer minha tão sonhada faculdade, escolhi um curso que me daria a oportunidade de estudar sobre meio ambiente e sociedade. Só que, aquela Daniela pré vestibular achava que sociedade fosse ‘a cidade’. Eu não tinha noção de que existem várias sociedades pelo mundo… além das categorias rural e urbano, que é tema para outro texto.

Aproveitando a interdisciplinaridade da UFABC, peguei uma disciplina que mudou, completamente, a minha visão de mundo: Unidade de Conservação da Natureza.

O tema em si já era conhecido por causa do curso técnico; porém, foi apresentado os conflitos territoriais que podem existir nessas UCNs quando elas são instituídas em lugares onde moram populações e comunidades de hábitos tradicionais.

Foi um grande impacto na minha concepção de ambiente e sociedade ⚠️

Eu não imaginava que, dependendo do tipo da UCN instituída, os povos que moram naquele mesmo lugar, há séculos, tem que sair porque se tornam criminosos por simplesmente estarem numa “reserva de proteção integral” e não poderem mais realizar sua rotina de cultivo tradicional praticada há séculos, já que o conhecimento é passado de geração para geração 😮

Foi aí que meu caminho começou a mudar… foi nessa disciplina que aprendi de forma mais definida e conceituada o preservacionismo e o conservacionismo, as duas correntes ‘famosas’ do movimento ambientalista internacional.

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Já o socioambientalismo surgiu no Brasil no bojo da redemocratização, agregando às pautas sociais, as demandas ambientais.

Nesse caso, as ditas pautas sociais eram as pautas colocadas pelas sociedades de hábitos tradicionais; como os indígenas, seringueiros, ribeirinhos, o MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens-, entre outras populações que tiram seu sustento diretamente da floresta e, por isso, são afetadas diretamente pela destruição da mesma.

(se você mora na cidade e acha que a degradação dos ambientes naturais não te afeta, recomendo fortemente que você leia este post)

O socioambientalismo emergiu das articulações entre os movimentos sociais e ambientais, propondo um novo paradigma de desenvolvimento que preconiza a promoção e a valorização da diversidade cultural e a consolidação do processo democrático no país, com ampla participação social na gestão ambiental.

Nessa altura do texto, é impossível não falar sobre economia.. já adianto que nem de longe é um assunto que eu domino. Entretanto, consegui entender o mínimo para acompanhar o debate público… por isso, deixo um vídeo bem esclarecedor sobre como funciona o paradigma econômico atual.

O socioambientalismo visa, justamente, uma mudança desse paradigma status quo.

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O texto base para este post foi o livro Socioambientalismo e novos direitos: proteção jurídica à diversidade biológica e cultural, da Juliana Santilli, disponível aqui.

Na próxima reflexão, pretendo escrever sobre qual o lugar da natureza no processo produtivo atual: apenas uma fonte de extração de matéria prima ou a base que sustenta toda a vida na terra?

Até lá!

*Conforme exposto no texto, pode acontecer de uma UCN ser implantada num território tradicional… em decisão inédita, Justiça de SP invalida sobreposição do Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira, uma UCN de proteção integral, e determina a titulação do Quilombo Bombas. Leia mais aqui.

*Atualização em 31/01/2024

Quilombo Ivaporunduva

Este post é sobre um trabalho de campo que fiz numa disciplina da UFABC que, com ‘sorte’, peguei com uma professora que trabalha com quilombolas e este post é sobre isso…

A primeira vez que ouvi a palavra quilombola foi pelo infame ex-presidente do Brasil. Na época, eu fiquei super curiosa para saber o que eram quilombos e quilombolas, mas achei que nunca saberia a partir dos meus próprios olhos… aí, veio a Vida e me proporcionou uma experiência maravilhosa, além de esclarecedora.

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De acordo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), ‘as comunidades quilombolas são grupos étnicos – predominantemente constituídos pela população negra rural ou urbana –, que se autodefinem a partir das relações específicas com a terra, o parentesco, o território, a ancestralidade, as tradições e práticas culturais próprias’.

Entretanto, historicamente, quilombos eram os lugares onde negros escravizados se reuniam em resistência ao regime escravocrata ✊

Ao visitar o quilombo, percebe-se que se trata de um modo de ser totalmente diferente do que a gente conhece. A vida se dá a partir de uma relação comunitária, na qual a identidade é comum… é como se a fluidez do mundo líquido não coubesse no sólido contexto do território onde a vida e a sobrevivência se desdobram.

Claro que isso é uma perspectiva de alguém de fora. Quem está lá, provavelmente, tem uma outra percepção de mundo… conforme o esperado.

Mas, de qualquer forma, a experiência de conhecer um quilombo e entender, ainda que limitadamente, a forma como a vida se desdobra é um tanto esclarecedor; porque os valores não são comerciais como a gente valoriza a natureza… são valores fundamentais.

O Rio tem valor em si 🌊 A Terra também 🌳

Apesar de viver num mundo capitalista que prioriza o lucro e o utilitarismo, fazendo da natureza uma commodity que só tem valor se for útil aos interesses do mercado, particularmente, eu acredito nisso também 😅

Me parece que a questão do quilombo é uma outra proposta de vida, baseada em conhecimentos que nós desconhecemos, por completo..

Esses dias, vi um post em uma das redes sociais, que falava sobre como as árvores se comunicam entre si pelas raízes, e me lembrei da palestra que tivemos na plantação de banana…

… o agricultor quilombola estava explicando como ele cuida da plantação e como que a própria planta mostra qual parte deve ser retirada para não matar as outras plantinhas… e eu CHO-CA-DA porque não tava entendendo nada.. como ele sabia tudo aquilo só de ver a planta?? 🤯

Bom, depois do post fui atrás de algum artigo para tentar entender melhor o que ocorre com as plantas. Encontrei um artigo da FAPEMAFundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão – e percebi que a ‘nossa ciência’ busca por conhecimentos que os povos tradicionais já sabem!

Quem não sabe sou eu, você e tantos outros de nós… os biólogos, provavelmente, sabem, porque nosso conhecimento se dá compartimentado em caixinhas de forma fragmentada, não holística. A gente asfalta margem de Rio, chama de marginal Pinheiros e luta contra enchentes…

Parabéns para nós!! 👏👏👏

Claro, preciso dizer sou a favor da ciência. Mas, ao fazer da ciência o caminho, a verdade e a vida, fazemos dela um dogma e não-paradigmática, como seu fundamento requer que seja..

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Bom, me encaminhando para o final, reforço que minha percepção é de alguém de fora… apesar disso, quanto mais eu saio das minhas caixinhas, mais eu vejo que o mundo é GRANDE e eu pequena de-mais.

É aquilo que já foi abordado num outro texto: a margem do oceano do desconhecido aumenta à proporção que a minha ilha do conhecimento aumenta… isso, para mim, é viver.

Compreender que a Vida é movimento em várias direções. Não apenas do modo e no ritmo que nós conhecemos..

… porque, o que conhecemos é limitado ao contexto no qual vivemos… e isso cabe a todos, em alguma medida. Por isso considero importante sairmos das nossas caixinhas para olhar o mundo a partir de outros olhares… e o mais importante, respeitar todas as formas de ser. Porque são dignas e completas em si.

Por fim, deixo algumas dicas de leitura, caso você queira dar uma lida. Logo abaixo, seguem algumas fotos do dia que passamos por lá. Até mais e boa reflexão 🤯

“Onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração”

[Mateus 6:21]

E eis que aqui estamos, com mais um post não planejado 🤷‍♀️ a vida como ela é. pelo menos a minha é. um susto, muitas vezes.

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pensei muito sobre a situação dos Yanomami e o que me ocorreu foram dúvidas. muitas dúvidas!

como que a gente fala para as pessoas que Vida vale mais do que dinheiro? será que isso deveria ser óbvio? ou será que realmente há quem ache que o garimpo ilegal é mais importante do que todo um povo?

me impressiona tamanho descaso com o povo originário. tem gente que põe a mão e quebra. destrói. mata, de fome, de água contaminada. mata rio por causa de ouro. de dinheiro. de ambição desmedida. e com o rio morto, morre também o sustento de uma população.

o país do ‘deus acima de tudo’ se esqueceu de falar que os deuses foram forjados à sua imagem e semelhança… 💭

se um Criador existe não é esse miserável que muitos creem. a vida deveria ser algo a ser valorado com mais estima.. e isso é só o óbvio mesmo. mas estamos na era de ter que dizer o óbvio…

se a dor do outro não te comove nenhum pouquinho, o seu problema é pior que o dele 🤯

no fim das contas, eu aprendi a desapegar de tentar convencer quem pensa diferente de mim que a vida é valor inestimável. quem quiser ler, que leia e quem quiser se achegar, que se achegue.

são os semelhantes que se atraem e chegou a hora de deixar o rio da vida fluir e nos unir. não há nada mais desprezível do que negligenciar o sofrimento de um ser vivente.

próximo texto voltaremos à programação normal deste blog.

com amor 🌹

*Leia também: Clara Opoxina, a enfermeira dos Yanomami: ‘Eu vi o garimpo ser retirado e voltar’, profissional que coordenou reabertura de postos de saúde fechados no governo Bolsonaro relata sua rotina na emergência e mostra que sem a expulsão dos garimpeiros o genocídio não vai parar.

*Atualização em 02/04/2024

Brasil antes de 1500

Este post trata de uma experiência pessoal, além, é claro, do conteúdo informativo… Em 2017 fiz cursinho para prestar os vestibulares e foi uma experiência muito boa; muitos estudos, ansiedade, expectativas e deu tudo certo! 🥰

Na época, tivemos a oportunidade de visitar a Aldeia Krukutu no extremo sul da cidade de São Paulo, fronteira com São Bernardo do Campo, no ABC Paulista! Isso mesmo! Existe uma aldeia indígena na região metropolitana de SP e é sobre isso que pretendo te contar hoje…

Fotos de acervo pessoal. Um obrigada especial a Aline Viana da Silva que, tão gentilmente, compartilhou comigo algumas de suas fotos da visita à aldeia.

Foi uma experiência muito marcante para mim… eu não imaginava, na verdade, nem passava pela minha cabeça como poderia ser a vida numa aldeia, ainda mais em São Paulo. Quando pensava em ‘índios’, pensava na Amazônia e outros lugares remotos, quando eu soube que havia uma aldeia bem ‘aqui, pertinho de mim’ (estou em Santo André, no ABC Paulista), eu quase nem acreditei… 😮

O caminho para a aldeia já parecia que não era SP… estou acostumada com a urbanização, aquele caos que conhecemos bem (ou não) e lá, em Parelheiros, as coisas são bem diferentes do que estou acostumada. Não foi difícil perceber que um ‘lugar remoto’ não é exatamente um lugar longe mas, sim, um lugar distante nos hábitos, nas crenças, nas interpretações que se faz do mundo ao redor de si e da natureza.

Temos a tendência de olhar pro Outro como se ele fosse uma extensão de nós, como se ele não tivesse sua própria subjetividade constituinte. A vida que valoramos, geralmente, é a vida daquele nosso semelhante. O outro desconhecido parece que não vale o mesmo…

E assim, o que desconhecemos se torna não valioso…

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Mas o fato de desconhecer não significa que não seja valioso. Uma vez eu li um livro e o autor dizia: ‘imagina uma ilha, essa ilha é a ilha do conhecido; ela tem uma borda, o oceano do desconhecido. quanto mais você aumenta a sua ilha do conhecido, maior fica borda do oceano do desconhecido. é sempre proporcional’. Essa ideia impregnou em mim. Não me lembro mais de que livro foi, nem o autor, nada… mas fica aí a reflexão.

A vida se desdobra de muitas formas. Existem muitas maneiras que nós desconhecemos de encarar a vida. Mas isso não significa que não sejam legítimas, vívidas e o mais importante, importante para alguém. Um outro para nós…

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Somos ensinados que o Brasil foi descoberto em 1500 e, em geral, não somos educados a pensar criticamente essa dita ‘descoberta do Brasil’. Aliás, nem nos falam (ou não falavam na minha época) que, na verdade, a terra de chegada dos viajantes portugueses era Pindorama, nome dados pelos povos nativos 😕

O marco temporal, pauta em evidência nos últimos tempos, mostra o quanto os interesses econômicos se sobrepõe a direitos originários; e também expõe a habilidade em se fazer Senhor dos outros, mesmo que os Outros sejam em si mesmo alguém que o senhor desconhece. E ainda há quem questione os ‘direitos humanos’.

Uma vez eu li/ouvi que as regras existem porque falta bom senso! De fato! Jamais esquecido!

Voltando à aldeia Krukutu, foi de lá que saiu o primeiro rapper solo indígena do Brasil:

https://www.youtube.com/watch?v=oMmb8ArW_38

Legenda em português disponível no vídeo.

E se você quiser saber um pouco mais sobre as sociedades indígenas brasileiras, seguem algumas recomendações: Sustentabilidade nas sociedades indígenas brasileiras; Terra Indígena Tenondé Porã; Etnias indígenas.

Estamos no segundo ano do Reciclarte 💚 Conheça minha campanha no APOIA.se e compartilhe este conteúdo nas suas redes sociais!! 🌸

⬇️ Até a próxima reflexão…