Minha juventude eu passei trabalhando, fazendo trilhas e trabalhos voluntários. Fui voluntária na SOS Mata Atlântica, em ONGs de animais abandonados (cachorro e gato) e no GRAACC. Recentemente, minha gata faleceu e me trouxe algumas memórias… e, este post é uma reflexão sobre essas memórias 🍃

Há muitos anos, assisti um vídeo que mudou minha percepção de mundo, a morte é um dia que vale a pena viver. Depois que assisti esse vídeo, passei a dar mais valor para a Vida.

Independente de você acreditar, ou não, em vida após a morte, o que temos é o agora. O instante. Essa respiração que te mantém vivo é tudo o que, de fato, você possui. Tem uma frase de rede social que diz “tudo é sobre agora, inclusive o depois”. A gente se ilude ao pensar no futuro como algo certo.

O certo no futuro, por certo, é a morte. E a morte é um dia que vale a pena viver!

Pode parecer meio doentio do ponto de vista psicológico, mas vou explicar meu ponto!

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Uma vez li, ou ouvi, “só sabe morrer quem sabe viver”. Na hora eu não entendi muito bem. Mas depois, eu compreendi que só acolhe a morte quem foi satisfeito com a própria existência. E é raro alguém gostar de pensar que um dia vai morrer.

Talvez, isso soe meio macabro, gostar de pensar que um dia vai morrer 😮 mas, o que quero dizer é que quando a gente lida com o sofrimento que antecede a morte, a morte em si pode passar a ser uma boa ideia.. e isso, eu aprendi no GRAACC.

Quando me voluntariei no GRAACC, eu fui admitida no Cantinho da Paz, que é o setor que se dedica à família das crianças que estão em tratamento no hospital.

E nesse trabalho, eu, que já era boa ouvinte, me tornei uma ouvinte sem resposta! Porque aqueles acompanhantes, mães, pais, avós, não queriam uma resposta. Eles queriam só ser ouvidos; quando falavam; se falavam. Às vezes, só o silêncio existia! E a gente ficava em silêncio juntos!

Lá, eu apreendi que é possível as religiões conviverem sem atrito. Cada dia da semana ia um líder religioso de uma religião distinta, visto que nem todas as famílias compartilhavam da mesma fé religiosa. Tinha o dia dos evangélicos, o dia dos católicos, o dia dos espíritas, e de outras religiões caso existisse uma família adepta.

A iminência da morte altera o funcionamento do mundo à volta. Mesmo a gente que é saudável se altera ao ouvir relatos e vivenciar o dia a dia de quem está acompanhando um paciente há anos, ou até mesmo desde que nasceu!

As nossas próprias crenças, ou as minhas, para ser mais exata, se tornaram pequenas, frente à vastidão da fé daqueles familiares; eu aprendi que o Deus do meu coração não é capaz de julgar qualquer uma daquelas mães com quem lidei. Por vezes, só abracei! Sem nenhuma palavra dizer!

Existem circunstâncias que vão além da nossa compreensão! Praticamente tudo vai além da nossa compreensão! Foi na filosofia que essa ideia impregnou em mim. O prof. disse que a filosofia era uma colcha de retalhos, à distância era possível enxergar a colcha toda, mas à medida em que se aproximava de um detalhe, já se perdia toda a visão da colcha inteira.

Ele disse isso aplicado à filosofia, mas apliquei à vida. À época, eu trabalhava num abrigo que tira crianças da família por ordem judicial.

Minha vida tem sido um laboratório de aprendizado. Sou curiosa e me interesso pela condição humana, porque isso me fala sobre mim. Fala sobre nós nesse Planeta chamado Terra.

E esse post veio pronto quando um dos médicos da minha gata disse: “agora, a enfermagem é importante; não tem o que fazer”. Quando não há mais recursos na medicina, existe uma coisa chamada CUIDADO que faz toda a diferença.

Essa existência que compartilhamos, numa fração de segundos da eternidade do tempo, não é para sempre! O para sempre é só o agora. Eternos Agoras! Viva bem! Até mais!

Minha gata, Pandora, tomando sol no último dia de vida dela 💗