Eu já estava com meus 20 e poucos anos quando decidi cursar o técnico em meio ambiente. Já havia trancado filosofia e farmácia e estava bem perdida na vida.
Na época eu fazia análise e foi na espera uma das sessões que me deparei com uma edição da revista ‘Vida Simples’ com a imagem do Planeta Terra cheio de lixo e a frase: ‘Do ponto de vista do Planeta não dá para jogar lixo fora, porque não existe fora’ (autor desconhecido). Tive uma epifania e super me interessei pelo tema.
Comecei o curso sem muita expectativa (já havia trancado dois cursos); mas com o passar do tempo fui me interessando pelas aulas e pelos conteúdos. Um oceano estava se abrindo bem na minha frente. E assim me encontrei.
Infelizmente, a área ambiental não tem muitas vagas disponíveis e nunca consegui um emprego formal. Mas isso não me impediu de fazer trabalhos voluntários em ONGs ambientais e me apaixonar cada vez mais pela área.
O meu projeto de conclusão do curso técnico foi um gerenciamento de resíduos feito pela reciclarte que foi, na verdade, uma empresa fictícia de gerenciamento que criei para me formar no curso técnico. Logo, nada mais justo que meu primeiro post sobre meio ambiente seja a respeito de resíduos.
O vulgo lixo existe numa dimensão que a gente nem imagina. Quando colocamos nossas sacolinhas com lixo pra fora de nossas casas e alguém as retira dali, pra onde elas vão? É uma questão que não fazemos com muita frequência. E, em geral, a resposta é: vão para lixões.
O tema é denso e complexo. Dada complexidade exige definições e normas; e elas existem. A lei 12305.2010 instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos que ‘dispõe sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicáveis’.
É claro que não pretendo falar sobre legislação aqui (nem tenho competência pra isso) mas, é necessário definir para compreender e é na PNRS que estão as definições abaixo:
Resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis em face da melhor tecnologia disponível;
Rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada;
Reciclagem: processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos produtos, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa;
Logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada;
De acordo com uma das definições acima, apenas os rejeitos – resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação (…) -, deveriam ser descartados. Consegue pensar num exemplo prático? O lixo do banheiro, na esfera domiciliar. Todas as embalagens, papeis, plásticos, muitas vezes, pilhas, eletrodomésticos e eletrônicos, acabam indo pro lixo comum, quando poderiam ter uma outra destinação, mais apropriada ou, até mesmo, fazer parte de um sistema de logística reversa.
O mais chocante é que em 2018, o Brasil gerou 79 milhões de toneladas de resíduos sólido urbanos, segundo a Agência Brasil, sendo 541 mil toneladas/dia, segundo a ONU Meio Ambiente, citada pela mesma fonte. E, pasmem, ainda em 2018, segundo a mesma fonte, 29,5 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos seguiram para lixões ou, aterros controlados que não possuem nenhum conjunto de sistemas, ou medidas necessárias para proteger a saúde das pessoas e o meio ambiente contra danos e degradações.
Já um aterro sanitário possui camadas de impermeabilização para o chorume não atravessar as camadas dos solos e assim contaminar os lençóis freáticos. Além disso, possui sistema de drenagem para que o chorume seja levado para tratamento, podendo, posteriormente, ser devolvido ao ambiente sem risco de contaminação. Além de contar com a captação dos gases liberados, como metano, seguido de sua queima. Durante o curso técnico (2012/2013), tive a oportunidade de fazer algumas visitas técnicas e, uma delas, foi no aterro sanitário Boa Hora que ficava ao lado de um aterro controlado. A diferença na minha cabeça é bem gritante.
É quase evidente que a quantidade de lixo que produzimos está associada ao nosso padrão de consumo, bem como à obsolescência programada. Mas, isso tudo fica para próximos posts. Por fim, quero deixar a foto do nosso Pálido Ponto Azul citado de forma poética pelo cientista Carl Sagan:
Fonte da imagem: Nasa Science, círculo feito por mim.