Receita para epidemias e pandemias?

De acordo com alguns especialistas, sim; fabricamos epidemias e pandemias… neste post, pretendo te contar o porquê…

Ao longo da história da humanidade, os seres humanos foram se adaptando ao ambiente e domesticando plantas e animais. Nesse processo, os organismos evoluíram adaptando-se uns aos outros, cada um em seu ‘espaço’ natural: os animais selvagens nas matas e os seres humanos nas ‘áreas urbanas’.

No entanto, ao longo dos anos, os seres humanos foram se deslocando para outras áreas… o final do século XX evidencia esse movimento de expansão da humanidade, visto que foi marcado pela acelerada integração dos sistemas econômicos nacionais à uma dinâmica global.

Tal dinâmica facilitou muitos processos, inclusive, a mobilidade das pessoas e de mercadorias entre países 🌐 antes da metade do século XX não era possível ir para o outro lado do Planeta em algumas horas com apenas um voo…

Entretanto, essa mudança no eixo do mundo trouxe consigo consequências proporcionais.

Quanto mais aumenta a população, mais necessidade de alimentos, saúde, educação, água potável… as oportunidades, em geral, estão nos grandes centros, causando assim adensamento urbano; e tudo isso leva à pressão sobre o meio ambiente em busca de recursos naturais.

E as epidemias/pandemias com tudo isso? Relativamente fácil responder essa pergunta… vem comigo! 🙃

As sociedades contemporâneas optam por produzir de forma pouco sustentável; desde a padronização de culturas de alimentos até a criação de animais de forma industrializada… dois problemas a serem explorados…

Para padronizar as culturas é necessário desmatar grandes áreas. Essas áreas desmatadas são, na verdade, morada de animais silvestres que perdem o lar e, assim, os que sobrevivem migram para outros lugares..

Segundo a médica espanhola María Neira, “70% dos últimos surtos epidêmicos que sofremos têm sua origem no desmatamento e nessa ruptura violenta com os ecossistemas e suas espécies”.

Além dela, o pesquisador norte americano Mike Davis publicou, em 2005, seu livro o monstro bate à nossa porta – a ameaça global da gripe aviária, no qual ele relata a possibilidade de uma pandemia causada pela forma de criação de animais para abate.

Na tabela 7.2 de seu livro, ele detalha os surtos de H5 e H7 (nomenclaturas das gripes; exemplo: H1N1; H5Nx; H7Ny…) que ocorreram nos EUA a partir de 1997. Reproduzi a tabela abaixo:

AnoVírusLocal
1997H7N3Utah
1997-98H7N2Pensilvânia
2000H7N2Flórida
2001H7N2Pensilvânia, Maryland, Connecticut
2002H7N2Shenandoah Valley, Nova York, Nova Jersey
2002H5N3Texas
2002H5N2Nova York, Maine, Califórnia
2002H5N8Nova York
2002H5N1Michigan
2003H7N2Connecticut, Rhode Island
2003H7N2Infecção humana em Nova York
2004H5N2Texas
2004H7N2Maryland, Delaware, Nova Jersey
Livro: O monstro bate à nossa porta. Página 117

Parece mentira, né? Mas não é. A seguir algumas reportagens de animais que foram sacrificados em grandes quantidades por serem um risco à saúde pública. A primeira reportagem é de 2005, o mesmo ano que o livro de Davis foi publicado.

Aves sacrificadas; Gripe aviária reaparece nas Filipinas e na Alemanha; Dinamarca abate 25.000 aves de criação após primeiro surto de gripe aviária. Além da gripe suína, que foi considerada a primeira pandemia do século XXI e seu vírus está entre nós até hoje…

Em 2020-21 o mundo conheceu a COVID-19, que também é causada por um vírus de origem zoonótica e não há garantias de que não venham outros vírus por aí… ao contrário, quanto mais adentrarmos os espaços naturais, mais os animais, e a natureza de um modo geral, ficarão sob pressão, caracterizando, inclusive, a perda da biodiversidade…

Me encaminhando para o final, deixo um texto mais acadêmico, caso você queira se arriscar e, detalhe, foi publicado em 2009, mais de uma década atrás… Gripe aviária: a ameaça do século XXI.

Para terminar, deixo para reflexão um trecho do prefácio do livro de Davis:

“As grandes epidemias, como as guerras mundiais e as fomes coletivas, massificam a morte, tornando-a um evento além de nossa compreensão emocional (…) ninguém deplora por uma multidão nem lamenta à beira do túmulo de uma abstração”.

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*Nos primeiros 15 dias de janeiro de 2024 foram registrados 472 casos de acidentes com animais venenosos, como escorpiões, aranhas marrom e armadeira, serpentes, entre outros. Para a médica veterinária Gisele Freitas, do Centro de Vigilância Epidemiológica, “Fatores como o aumento da urbanização, desmatamento, turismo ecológico e alterações climáticas podem estar relacionados ao crescimento de casos. O aumento da oferta de detritos alimentares proporciona um ambiente ideal para a proliferação de roedores e baratas, que por sua vez possibilita aumento do número de serpentes, escorpiões e aranhas em convívio mais próximo com o ser humano” (Fonte da informação: Agência Brasil – São Paulo). Leia mais aqui.

*Atualização em 11/02/2024

Uma relação óbvia?

Tive contato com questões de saúde pública e meio ambiente no curso técnico, fazendo este trabalho sobre febre tifoide. Fiquei tão impactada que questões socioambientais se tornaram o centro da minha atenção.

Quando falamos em meio ambiente é impossível não considerar as condições sociais, por isso o termo socioambiental é tão importante. Por exemplo, a doença de chagas é endêmica de locais onde a infraestrutura residencial é precária, em sua maioria na região Norte do país, segundo o Ministério da Saúde.

Trazendo um exemplo mais próximo, a própria pandemia de COVID-19 é um exemplo, visto que há indícios de que o vírus tenha surgido em um mercado úmido asiático. E não se engane! Não se trata apenas da China e demais países asiáticos…

Várias epidemias já ocorreram por conta do contato entre animais selvagens e seres humanos; no próximo post falarei um pouco mais sobre isso.

Por ora, quero apenas enfatizar que a qualidade do ambiente impacta na vida de seus residentes, de forma decisiva.

Temos o mau hábito de pensar que poderemos viver em Marte com a tecnologia da SpaceX. Enquanto isso, estima-se que aproximadamente 7 milhões de pessoas morrem por ano por viverem expostas a ambientes poluídos.. e o mais impressionante, aqui na Terra mesmo..

Conforme disse Carl Sagan ‘o nosso planeta é indivisível’. Aliás, se você nunca leu meu post O que é Meio Ambiente? leia aqui.

Questões de saúde pública estão relacionadas ao modo de vida e produção. Por exemplo, ao autorizar o uso de mercúrio, que é um metal tóxico e biocumulativo, em garimpos, autoriza-se a contaminação por mercúrio, tanto do ambiente quanto dos seres humanos envolvidos na garimpagem.

Tal contaminação gera danos incalculáveis; como a barragem de rejeitos da Vale que se rompeu e matou um rio. Veja, MATOU UM RIO! E PESSOAS. Os rios são ecossistemas complexos que abrigam milhares de vidas aquáticas e servem, ainda, de fonte de renda para muitas pessoas que dependem dele.

Na tragédia de Mariana: Contaminação do Rio Doce é ‘fantasma’ de um dos maiores crimes ambientais do mundo, pois a contaminação pode até ficar invisível aos olhos, mas não deixa de existir e ser nociva aos organismos vivos.

Bom, me encaminhando para o final, quero já deixar o tema do próximo post, que será sobre as epidemias, desmatamento e a forma de criação de animais para abate.

É isso, por hoje!! Tchau! 🙂