A Era da Humanidade?

A teoria mais bem aceita pela comunidade científica é a de que a vida surgiu na água, há alguns bilhões de anos. Eu, particularmente, gosto da didática do cientista Carl Sagan para explicar a possível origem do universo e da vida.

Para se fazer entender, Sagan comprimiu o tempo do universo em 12 meses, para dimensionar a escala dos acontecimentos. Assim, o universo teria surgido em 1º de janeiro com o Big Bang e a partir daí foi ganhando a forma que conhecemos.

A humanidade, segundo essa lógica, surgiu nas últimas horas do dia 31 de Dezembro do Calendário Cósmico proposto por Sagan, mais ou menos assim:

HoraAcontecimento
20:00Separação entre chimpanzés e humanos
21:25Primeiro ancestral humano anda ereto
22:30O tamanho do cérebro humano começa triplicar
23:52Aprendizado sobre a domesticação do fogo
23:56Fim do último período glacial
23:59Data das pinturas pré-históricas na Europa
23:59:20Desenvolvimento da agricultura
23:59:35Início do Neolítico
23:59:50Surgimento das primeiras grandes civilizações

Apesar de, segundo o cientista, a humanidade ter ‘aparecido’ nos últimos instantes desse ano cósmico, já conseguiu alterar o funcionamento do sistema Terra, devido à capacidade tecnológica adquirida nas últimas décadas.

Tendo em vista que o pós-guerra trouxe consigo uma industrialização globalizada, desenvolvimento tecno-científico mais acirrado, crescimento populacional exponencial que demandou novas formas de uso de terra para cultivos e crescimento econômico acelerado.

Dessa forma, no momento em que o conhecimento humano ultrapassou os limites da simples observação e avançou tecnologicamente, adentrando níveis atômicos, adquiriu também meios para alterar a cobertura e o uso da superfície terrestre.

Essas alterações do meio ambiente ganhou um novo nome: Antropoceno, que está em debate e se refere à habilidade ‘tecno-cientifica’ das civilizações contemporâneas. Claro, quando se trata de ciência não existe, ou pelo menos não deve existir, uma verdade absoluta, e sim hipóteses com as quais lidamos até que uma nova hipótese seja colocada.

Uma das hipóteses posta, em relação à humanidade ter adentrado o antropoceno, é afirmada por um time de pesquisadores que afirmam que os frangos de hoje em dia são uma nova espécie criada exclusivamente pela humanidade em benefício único dela própria e sem precedentes fósseis de uma população de animais em tamanha quantidade.

Segundo o artigo The broiler chicken as a signal of a human reconfigured biosphere, há mais frangos criados para abate do que a população de aves silvestres na natureza. Essa população de animais domesticados não seria possível sem o avanço tecnológico no setor alimentício, que é baseado na integração vertical.

Além disso, o artigo alega que tais animais não são capazes de viver sem intervenção humana, uma vez que possuem deficiência no esqueleto e massa corporal que não derivam de seus supostos antepassados.

Ficou em choque?? Então leia essa reportagem da BBC News e me diga nos comentários se você concorda ou não com a hipótese de que adentramos o tal do Antropoceno!

(Bio)Diversidade

Estamos em um Planeta que é diverso. Existem diversas línguas, diversos sabores, múltiplas formas de ser e de agir. Há uma infinidade de culturas e hábitos os quais formam as sociedades e as civilizações. Portanto, ser diverso é uma qualidade inerente à vida.

A biodiversidade diz respeito à diversidade biológica dos seres vivos. É o que permite que existam organismos que vivam em lugares extremamente gelados, outros em lugares extremamente quentes, em desertos e tantos outros habitats. Foi a biodiversidade que deu base para a adaptação dos seres vivos às mudanças do meio ambiente ao longo da história do planeta.

Em oposição à diversidade, existem a uniformidade e a homogeneidade, visto que a partir do momento em que se uniformiza, perde-se as características próprias e particulares. Para a ativista Vandana Shiva a humanidade tem cultivado um modo de pensar que restringe a diversidade da vida.

Assim, falarei um pouco sobre o livro Monocultura da Mente, da autora em questão, e sobre como essa padronização das culturas de alimentos tem influência direta do modo de pensar moderno e contemporâneo.

Para a autora, o processo de monocultura é fruto de uma mentalidade dominada pela visão unidimensional do sistema em vigor, que tende a estabelecer o ‘correto’ suprimindo outras formas de entendimento local; visto que os sistemas nativos de cultivo se baseiam exclusivamente nos insumos orgânicos internos, ou seja, as sementes vêm da natureza, assim como a fertilidade do solo e o controle das pragas são feitos com a mistura de safras e não com venenos.

Na Revolução Verde – meados do século XX – as safras foram intimamente ligadas à compra de ‘insumos agrícolas’, como sementes transgênicas, fertilizantes, químicos, pesticidas, petróleo, irrigação intensiva e acurada, dando origem às monoculturas e essa forma de cultivo é dominante até hoje.

A padronização biológica, base das monoculturas, empobrece o solo, uma vez que as sementes são geneticamente idênticas (transgênicas) e dependentes dos químicos que são vendidos juntos com elas.

Imagine, se um agricultor guarda e utiliza sementes na safra seguinte, ele está infringindo a lei de patentes, porque a semente geneticamente modificada pertence ao laboratório que a modificou; que, por vezes, é o mesmo laboratório que produz os venenos e os remédios no geral.

Enquanto as sementes crioulas, as sementes naturais, não são bem vistas porque, segundo o modo de produção em vigência, não produzem a ‘quantidade suficiente’; (apesar das monoculturas produzirem as quantidades esperadas ou suficientes, segundo a ONU News, mais de 820 milhões de pessoas são atingidas pela fome no mundo).

Para a autora de monoculturas da mente, “a biodiversidade não poderá ser conservada enquanto a diversidade não se transformar na lógica da produção. Se a produção continuar se baseando na lógica da uniformidade e da homogeneização, a uniformidade vai continuar tomando o lugar da diversidade”.

Assim, ela sugere que a monocultura da mente é uma forma atual de colonização, uma vez que o imaginário das pessoas se torna singular, não permitindo que haja espaço para a pluralidade e descartando caminhos que levem ao conhecimento da natureza.

A natureza, por sua vez, tende a se autossustentar e manter equilíbrio, já que o Planeta é um sistema fechado. Portanto, a sustentabilidade e a diversidade estão ecologicamente ligadas, visto que a diversidade provê as múltiplas interações com as quais esse sistema se reequilibra.

E no modo de pensar monocultural, tal diversidade se perde e, consequentemente, perde-se a sustentabilidade. Logo, o impacto ecológico é tremendo. Há quem diga até que estamos em meio a 6ª extinção em massa.

Tais rearranjos planetários estão ‘inaugurando’ um novo tempo geológico, o Antropoceno, que ainda não é o assunto da vez, mas logo logo será. Para finalizar o assunto (Bio)Diversidade, deixo a indicação de leitura de uma entrevista da Vandana Shiva que, caso te interesse, você acessa clicando aqui.

🙂